Sunday, December 14, 2008

Ser

O que nos faz aproximar de alguém? Já me dei conta a deambular sozinho, pela rua, sem perceber o que me faz olhar para a esquerda, ou para a direita, ou para trás... Por vezes é um acto inconsciente sem sentido aparente, mas que existe. Existe? Não me é estranho. Sim, algo existe, sem o qual andaria de olhos vendados, seria igual, não acharia sentido para nada. Nem sequer chegaria a um estágio em que me fosse permitir usufruir do poder dos sentidos. 
Sim, destaco agora a visão. Olho para ti, e para ti, ou para ti... Preciso de mais. A caminhada continua, calçada abaixo, com o espaço a tornar-se inversamente proporcional à quantidade de pessoas que se vão acumulando. Um encontrão, o desviar de um sinal de Stop, um cão cujo sentido de necessidade se sobrepõem ao da vergonha de se expôr.

"Toma, é para ti"
"Conhecemo-nos de onde?"

O teu cheiro. Por entre o doce cheiro de castanhas por assar, das flores que lutam por protagonismo numa montra, sinto o teu cheiro. Olho para trás, e só esse gesto faz mudar o meu caminho. Ou não? Não sei, nem me preocupo com a reposta... Entre uma mistura de fragrâncias florais e de especiarias tipicas de um mercado de Bombaím, puxo o teu braço...

A tua pele. Está debaixo do teu sobretudo de tom bege. A tua manga escorrega no sentido da minha mão até forçar o sentir da tua pele. Podias ter reagido com um gesto brusco, num misto de pavor e repulsa, mas não. Parámos e tudo continuava a andar. Tremo de frio, não de embaraço. Tremo de frio, não de timidez. Tremo, porque acho que chegou a nossa vez...

"É para ti"
"Mas...Conhecemo-nos?

Beijo-te sem pedir autorização. Os meus lábios nos teus, fervem. Como o granizo que cai e queima as pétalas das flores que lutam por protagonismo numa montra. Só que esse beijo não pára, não pára... O consentimento da tua parte não me faz rogado. Ao mesmo tempo o abraço, o teu corpo junto ao meu como que procurando um refúgio que tu buscas sem saber porquê. Eu não sei porquê, mas aceito essa missão. 

"É para ti"
"É para ti"

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