Sunday, December 21, 2008

O único dado adquirido

A R, o P, e o X são meus amigos. A R é a mulher do P, e do fruto desse amor nasceu o X. Encontrei a R ontém, numa reunião de trabalho, já não a via há meses largos. Tinha saudades dela. Também tenho muitas saudades do P e do X. A R contou-me que o pai dela morreu dia 1. Tudo pára. Não sei o que dizer, já passei por isto antes e não sei o que dizer. Vou continuar a passar por isto e vou continuar sem saber o que dizer. Abracei-a, baulbuciei duas ou três banalidades sentidas e acabámos por mudar de assunto no momento. Mais tarde falámos mais um pouco sobre o assunto. Foi de repente, de um dia para o outro, ninguém estava à espera. O X ainda não tem bem a percepção do que aconteceu, ainda é muito pequeno para perceber. Achamos nós. Quando o meu avô morreu eu senti-me cheio de força para dar a quem dela precisava. Só anos mais tarde me bateu a saudade, a perda, e a consciência da inevitabilidade. E chorei pela primeira vez por ele, pelo meu egoísmo de o querer ter perto de mim, de como ele me dava a mão para atravessar a estrada e comprar-me pastilhas "Pirata". Mas depois passa, e hoje sorrio ao recordar tudo isso.

Conheci o pai de R há relativamente pouco tempo, na festa de anos do pequeno X. 

R contou-me que procurou ajuda, depois da morte do seu pai. Junto de uma pessoa, uma senhora que tem um dom, o dom de acalmar a tempestade, de levar luz através da escuridão. Pela sensibilidade. E contou-me o que lhe fez dar o "clic" para voltar a sorrir. Essa senhora disse-lhe:"diga a toda a gente que ama, que os ama. Não deixe o tempo passar. Diga-o, repita-o, e volte a dizer, as vezes que for preciso".

Não sei quem é essa senhora, mas faz sentido. Gerimos tantos sentimentos e emoções, de forma a castrar o que nos vai cá dentro. Não somos máquinas, felizmente. Há coisas que nos fazem rir, há coisas que nos fazem chorar, há coisas que nos fazem sentir frio, há coisas que nos fazem sentir calor, há coisas que nos fazem cócegas e há coisas que nos fazem doer... Desligar essa capacidade é começar a morrer...

Acabei a dizer a R algo em que acredito, e que está acima de qualquer credo ou religião. Esteja onde estiver agora o teu pai, ele está a olhar por ti, pelo P e pelo X. 

2 comments:

plopes38 said...

Ai Miguelinho como eu gosto de ti, pena tu não gostares de mim como eu gosto de ti ou como eu gostaría que tu gostasses de mim... não leves a mal este meu desabafo de amor, mas tem alturas de um velho solitário que temos que confessar ás paredes de quem realmente gostamos... beijos Titia

costinha13 said...

Minha querida Tia:

Sinto-me muito lisongeado com o seu comentário. E quem fala por bem não magoa ninguém... Eu gosto muito de si, mas como minha tia... E desabafe, o mal é as pessoas guardarem coisas de mais para dentro. Guardam tanto que depois rebenta. E aí sim, magoam-se de certeza, e magoam quem está à volta. Não sou a pessoa mais experiente do mundo, mas já experimentei viver com e sem "calculismos", ou seja, houve uma altura em que vivia livremente e dizia o que sentia, fosse o que fosse, e houve alturas em que contorcia-me por dentro, para me controlar e não mostrar o que sentia. Optei claramente pela primeira forma de viver, porque a segunda tornou-me em algo que não sou. E foi aí que percebi: quem fala por bem não magoa ninguém. Depois há uma coisa chamada acertividade, que é saber falar quando se deve falar, e estar calado quando se deve estar calado. Em questões de sentimentos não se aplica muito, acho. Mas ainda estou a aprender...