Thursday, October 26, 2006

Time's Up!



Meus caros visitantes:

Tive a oportunidade de assistir, durante a semana passada, a manifestações típicas do "portuguesismo" que de vez em quando nos afecta (e de que maneira!) de forma a tirar-nos qualquer sentido de justiça ou sensatez.
Está em cena mais uma peça com o grande actor brasileiro António Fagundes, que mais ou menos à dois anos e meio esteve em Portugal com um espectáculo intitulado "7 Minutos". Além do que se escreveu sobre a qualidade do espectáculo, sobre a primeira vez que António Fagundes pisava palcos portugueses, e sobre o seu desempenho, muito se escreveu também sobre o rigor do actor em exigir que às 21 e 30 (hora de início do espectáculo) as portas do teatro fechassem. Ora, esse rigor povocou ataques de fúria por parte de alguns energúmenos que pensam que querem, podem e mandam em tudo, e que as outras cerca de mil pessoas que já estão sentadas, e até os próprios actores e intervenientes no espectáculo têm a obrigação de esperar que "suas excelências" tomem os seus respectivos lugares. Ou então, e quantas vezes isso já não aconteceu inumeras vezes a qualquer um de nós, após o início de um espectáculo de teatro (que exige silêncio absoluto tanto para o público como para os actores) entram aqueles atrasados e ainda por cima a fazer um chinfrim de primeira, ao bom estilo do bailinho da terrinha (sem qualquer desprezo por essa forma artística tão popular que é o bailarico).
Tudo se passou mais ou menos assim:
- Então vem um gajo qualquer não-sei-da-onde, e só porque faz umas novelas na terra dele acha que me pode fechar a porta nas trombas? Seu c....., vai prá p..... que te pariu!
- Eu não me vou embora! Tás f........! Arrebento-te a boca toda! (de salintar a letra "a" no início de mais uma expressão tão popular)
- Olhe, eu exijo o livro de reclamações! Isto é indecente! Só porque cheguei um minuto atrasada! Não há direito! Vou chamar a polícia!
Pois é, minhas senhoras e meus senhores, mas a realidade é que chegaram atrasados. E não são de certeza as pessoas que já estão sentadas nos seus lugares, ou os actores, ou os produtores do espectáculo (que querem é ver salas cheias) que fizeram com que se atrasassem. Ok, há vários motivos para os atrasos: o parqueamento em Lisboa ou no Porto são do pior, os transportes públicos não respeitam horários, o trânsito então nem se fala, e aquele toque entre dois carros que entopiu aquela determinada rua... Acontecem acidentes, precalços, mas não se pode pedir que por causa disso tudo se atrase. Eu como actor já cheguei a começar espectáculos meia hora depois (ou mais) por causa dos atrasos, e sinceramente digo-vos: é chato.
Além disso, muitos dos atrasos devem-se aquele último cigarro que se fuma antes de entrar, ou o cafézinho, ou o gel no cabelo, a maquilhagem das senhoras, etc. A solução: façam tudo isso, mas assim quinze minutos mais cedo. Ou então aceitem os factos e não se comportem como grunhos à porta de um teatro. Tenham vergonha.
Ora, tudo o que se passou há cerca de dois anos e meio, está-se a repetir novamente. Pois é, o senhor Fagundes está de volta, com mais um espectáculo preparado para encher salas, e continua com o seu rigor, e muito bem: às nove e meia da noite, quem está, está, quem não está, estivesse. Porque os horários existem por alguma razão, senão era a anarquia total, e o respeito, esse, seria zero.
Eu por mim estou com o António Fagundes. Mesmo. E contra mim falo, que já cheguei várias vezes atrasado a peças de teatro, cinema, etc. Mas, meus amigos, o ser humano tem uma capacidade incrível: aprende.

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