Tuesday, October 17, 2006

Sindicato de Professores=Parasitas=Meu Cartão de Crédito


Meus caros:
Hoje, a partir de determinada altura do meu dia (quando fui a uma caixa multibanco verificar o saldo da minha conta) comecei a sentir uma certa acidez no estômago, que se foi apoderando de mim, e que mobilizou todas as minhas células cerebrais para uma preocupação minha: como bom português, não tenho controle das minhas contas, dos meus gastos. Sim, porque o que desequilibra a MINHA BALANÇA DE PAGAMENTOS (MBP) são os meus gastos supérfulos, embora não desprovidos de total utilidade. Sim, sou viciado em livros, em música, em dvds, cinema, teatro, comer bem, um ou outro gadjet electrónico-informático, e por aí... Tudo isto desequilibra frequentemente o meu saldo. E meus amigos, na tentativa de equilíbrio da MBP, existe um poderoso inimigo, que sorrateiramente e com pezinhos de lã, vai provocando estragos qual vírus indetectável e disfarçado de suplemento multivitamínico: o meu cartão de crédito. O meu cartão de crédito está para mim como os sindicatos de professores estão para a sociedade portuguesa: são parasitas!
Mas os dias deste malfadado cartão estão contados! Vou cortar o mal pela raiz: já está.
Meus amigos, compras a crédito? Não sou um fundamentalista anti-crédito, mas para quê abusar do recurso ao crédito? Pela tentativa de assumir um estatuto que não se pode sustentar? Porquê e para quê? Não é bem este o motivo de recurso ao crédito, mas tal desequilíbrio não pode continuar. Até porque a minha profissão é a de actor, e em Portugal, o artista é considerado um parasita (outra vez?) ou um carolas que lá vai fazendo coisas que não servem para nada. "Uns rabiscos também eu faço" ou "teatro? prefiro a bola ou um reality show!" ou ainda "Actores? esses gajos só querem é festa. Vão trabalhar, calões!".
Mas meus amigos, mesmo contando tostões, não sou nenhum coitadinho, e amo o meu trabalho, saio todos os dias de casa feliz por ir trabalhar. Qual a percentagem da população portuguesa que sentirá o mesmo? Pois é, faltam oportunidades, desde a altura em que, aos 15 anos já temos que condicionar e muito as nossas opções profissionais. Aos 15 anos! Aos 15 anos? Aos 15 anos queria era bola e dar beijinhos na boca às meninas! Queria viver! E aprender, claro! Então porquê limitar tão cedo as opções?
Mas nem tudo está perdido aos 15 anos. O conceito de carreira ligada ao mesmo emprego tende a desaparecer, e a multiplicidade de actividades é a tendência para o futuro. Isso traz insegurança em relação às contas para pagar, pois "o meu lugar lá na empresa amanhã pode já não existir", mas obriga-nos a não nos acomodarmos aos lugares. Claro que os professores (nem todos felizmente) tentam a todo o custo inverter esta tendência, pois preferem continuar a produzir ZERO e a ganhar o seu, marimbando-se completamente para os seus alunos.
Mas meus amigos, esta tendência traz coisas muito boas. Dá-nos a oportunidade que julgávamos perdida quando aos quinze anos escolhemos economia e queriamos era ir para artes, e obriga-nos a dar o melhor de nós, naquilo que fazemos. Todos ganhamos com isso!
Carpe Diem

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